sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Cananeia - São Francisco do Sul-SC

16/01/09:

Depois de passar uns dias em casa tentando decidir o que iria fazer daqui prá frente, retornei para Cananéia com o objetivo de seguir para o sul através do Canal do Varadouro.
Peguei um ônibus em SP na quinta-feira. Cheguei lá no final da tarde. Aproveitei e fiz umas compras em um mercado no centro da cidade. Fui de carona com o entregador do mercado até a marina.
Neste meio tempo recebi uma ligação de um colega para me informar que uma proposta de trabalho havia sido aprovada.
E agora pião! Todo o meu planejamento de seguir para SC estava comprometido. Consegui negociar o início do trabalho para 02 de fevereiro. Foi muito difícil ter que negociar uns dias a mais de férias na situação que eu estava. O pião está desempregado, aparece uma boa oportunidade, e agora!. Imagina a responsabilidade de falar:- Só posso começar daqui 15 dias! Ainda bem que meu colega é mergulhador. Entendeu a situação que eu me encontrava. Valeu Toninho! O convite para uma saída de mergulho no Tukurá está feito!

Eu farei esta parte da viagem sozinho. Tá todo mundo trabalhando. Que absurdo! Não sei prá que isso!

Agora eu tinha data para retornar. Isso inviabilizou a travessia pelo Varadouro. Ficará para uma outra oportunidade.

Carreguei o Tukurá com a compra, me despedi do pessoal da marina Homem do Mar (foram Nota-10), deixei a poita dele e atraquei no píer no Centro Náutico Cananéia, para fazer os últimos preparativos e me despedir do colega Marcos Bernauer. Tomei umas brejas com uma isca de peixe frita na hora. Tomei uma ducha e fui dormir.

Sexta-feira me despertei no nascer do sol. Zarpei assim que o dia clareou. Não queria sair na barra de Cananéia no escuro.
Meu destino era Paranaguá. Umas 10 a 12 horas de lá.
O mar na saída da barra estava tranqüilo. Segui o track do GPS, fazendo o mesmo percurso da entrada.

Ilha do Cardoso a boreste (esqueda) Ilha Comprida a bombordo.

Uma hora depois estava passando pela Ilha do Bom Abrigo rumo ao Sul, com as Ilhas do Castillo e da Figueira na minha proa.

Dia lindo, mar calmo, pouco vento. Nem valia a pena içar velas.

Montei meu molinete para tentar pescar um peixinho pro almoço.
Algumas horas depois passei pela Ilha do Castillo. Uma Ilha Rochosa situada no litoral do Paraná. Oba! Mais um estado a ser conhecido pelo Tukurá.

Derepente... Zizzzzzzzz.... A linha do molinete correu. Oba um peixe!
Fui recolhendo a linha e sentindo o peso da criatura que eu estava prestes a embarcar. Com cuidado para não deixar o bicho escapar, comecei a perseber algo estranho. Que raio de peixe é este que não está brigando! Ainda longe, enxerguei uma Arraia. Ah! É por isso que o bicho não reage!!!
Quando tirei d´água...

Só eu mesmo para pescar um pedaço de feltro em pleno alto-mar.

Como todo velejar, também sou teimoso. Digamos persistente!
Lancei novamente a isca artificial para garantir um nobre almoço a bordo.

Mais algumas horas chegava na Ilha da Figueira. Esta ilha parece o morro do Pão de Acurar em menor escala.

É uma única pedra muito alta. Muito bonito.

Zizzzzzz. Agora sim! Agora é peixe.

Recolhi o bicho e com cuidado consegui embarcar um Bonito. No tamanho ideal para uma refeição individual.

Peguei os apetrechos para limpar o peixe. Bacia, faca, balde....
Deu um trabalhão limpar o bicho. A sujeira no convés foi inevitável. Ainda bem que não falta água para a limpeza.
Retirei dois filés bem servidos. De um deles tirei umas tiras para fazer um sashimi.
Mas não ficou bom. A carne era muito dura.
O que restou foi para a panela, para virar moqueca. Cebola, tomates e leite de coco. Faltou um cheiro verde ou coentro, mas não foi por isso que eu deixei de comer tudo. Tudo com farinha é lógico!
Louça lavada, bucho cheio. Deu aquele soninho! Um cochilo de alguns minutos foi inevitável. Ainda bem que tem o piloto automático.
No final da tarde consegui contato com uma estação costeira. Era a estação da reserva do Superagui. O operador me passou a previsão do tempo para o resto do dia.

Lá pela 18:30 hs cheguei na bóia 1 do canal da barra de Paranaguá. Próximo de lá estava uma lancha da praticagem do porto de Paranaguá.

- Atento Paranaguá Pilot, escuta o Veleiro Tukurá?
- Canal 12 Tukurá.

Perguntei sobre as condições de entrada pelo canal. Paranaguá é meio famoso pelas más condições da barra. A praticagem me informou que estava tudo tranqüilo. Apenas que eu tomasse cuidado com um navio que deixava o porto em minha direção.

A entrada no canal levou mais de 30 minutos. O mar só abaixou depois que eu passei pela Ilha do Mel. Antes disso as ondas estavam um pouco grande, devido aos bancos de areia dos lados do canal.

Entrei na Praia da Encantada a procura de uma ancoragem tranquilha. Fui sondando a profundidade até encontrar um local. A profundidade variava radicalmente. De 25 m, baixou para 10, de 10 caiu para 4 e derepente estava em 1,5 metros.
Então decidi seguir para outro ponto. Segui a indicação do guia do Marçal Ceccon – Rapunzel . Naveguei uns minutos e uma forte chuva começou a vir em minha direção. Decidi então retornar para a Encantada.

Já anoitecendo ancorei próximo a uma pequena baia mais protegida ao sul da praia.

Ducha fria, um rápido lanche. Fui dormir.

Acordei com o barulho da água passando pelo casco e pelo balanço do barco.
Quando saí para ver o que estava acontecendo, levei um susto com a velocidade da correnteza. Parecia um rio. Não fiquei tranqüilo com a situação, pois a correnteza jogava o Tukurá em direção as pedras.
Criei coragem e subi ancora para outro local. Segui mais para o meio da praia, me afastando das pedras.
Agora joguei âncora em local com 8 metros de profundidade. Fui dormir novamente. No meio da noite... tuque, tuque, tuque!!! Corri para fora e vi que eu estava encalhando. O profundímetro marcava 1,3 metros. Tentei puxar o barco pelo cabo da âncora, mas não consegui. Dei partida e consegui sair no motor, raspando a quilha no fundo.
Chovia! Mas não dava tempo para vestir a capa.
Então fui mais para o fundo. Quanto mais fundo maior a correnteza. Ancorei a 15 metros. Me sequei e voltei a dormir. Já era mandrugada quando acordei com o Tuque... tuque novamente. Desta vez consegui retirar o barco do raso puxando a âncora.
Mais uma tentativa. Lancei âncora a 25 mts. Liguei o alarme do profundímetro para 10 metro. Ôh noite de cão! O alarme tocava a todo momento quando o barco virava para o lado da praia.
Noite de Cão!!

Amanheceu e eu estava muito cansado. Mas mesmo assim eu queria aproveitar o sábado para seguir até São Francisco.
O dia estava nublado, mas tinha um ventinho que permitiu uma velejada gostosa. Foram 10 horas para chegar a barra de São Chico.
Optei por cortar caminho pelo baixio da barra. Segundo o guia do Ceccon e cartas náuticas, isto é possível com o mar calmo. Foi bom porque a volta pela Ilha da Paz iria me custar umas 2 horas a mais de viagem.


Entrei na Baia da Babitonga já no final do dia. Chamei o Iate Clube do Capri, que me disponibilizou um guia para a entrada no canal de acesso ao clube.


A entrada é bem sinalizada mas muito estreita. Se bobiar encalha!


O clube me recebeu muito bem. A política para visitantes é muito legal. Tem-se 2 dias de cortesia. Mais 5 dias com 50% de desconto e os dias restantes a um preço razoável, mas não barato suficiente para cruzeiristas se instalarem no clube por muito tempo.

As instalações do clube são muito boas. Simples mais bem cuidada. Existe um restaurante bastante agitado. Comida muito boa. A cerveja geladíssima. Experimentei a ÔPA BEER. Um chopp produzido em Joiville.

O local do clube é previligiado. Fica em um canal estreito no fundo de um condomínio chamado Capri. Em uma das margens existem lindas casas e suas embarcações defronte as mansões. Na outra margem, uma restinga que forma um braço da baia de Babitonga.

Pier onde atraquei o Tukurá. Água, energia elétrica e uma ducha nota10.

O domingo nasceu reluzente. Céu azul, água limpíssima, areia branquinha.
O canal do clube se encontra com o canal principal da Babitonga. A maré abaixa e a beleza aflora!
Formam piscinas naturais de água limpida e quente. Uma festa no final de semana.

O dia foi uma verdade maratona para mim e para a minha irmã. Estávamos tentando a todo custo conseguir comprar passagens para a Ângela, Isabela e Selma. Depois de muita luta deles. Conseguiu-se as passagem para a segunda-feira.

Agora vou esperar a segunda. Tomei mais umas Opa Beers, acompanhado de umas iscas de linguado.
Vista de onde estava sentado no restaurante. Que chato!

Bons Ventos! e Bom Trabalho.

domingo, 11 de janeiro de 2009

Rumo ao Sul: Ubatuba - Cananéia

07/01/09:

Com a ajuda do meu pai, o painho como é chamado pela Isabela, me desloquei para Ubatuba de mala e cuia. Meu objetivo é seguir de lá para Bertioga, com pernoite na Ilhabela.
Meu pai retornou com o carro para Mogi. Ele nem queria embarcar no Tukurá antes de voltar para casa. Insisti um pouco e ele aceitou dar uma chegadinha no barco.
São muitas as minhas semelhanças e afinidades com o meu pai. Foi dele que herdei a ciganice que tenho. Mas em uma coisa não combinamos. Ele não gosta de mar. O negócio dele é mato!
Desde pequeno fui acostumado a aproveitar o tempo livre com passeios e viagens. Tenho ótimas recordações dos tempos que moleque, em que viajávamos em uma camionete Toyota. Dormíamos na caçamba, minha mãe cozinhava em um fogãozinho de camping, muitas vezes acampávamos. Pão com mortadela, macarronada, bananas, tubaína e as vezes um refogado de broto de abóbora (afanado dos sítios de beira de estrada).
Seu Paulo! Muito obrigado pela a educação que o Sr. me deu. Muito obrigado pelos tão importantes valores de vida. Simplicidade, honestidade e felicidade. Serei eternamente grato a tudo o que o senhor fez por mim.
Eu te amo.


Preparativos em ordem, pude zarpar rumo a Ilhabela às 16:00 h do dia 07.
Ilha dos Búzios e Ilhabela.

Mar tranquilho, aquele ventão de zero nós de Ubatuba... lá vou eu! Às 21:30 hs peguei uma poita no praia do Pindá.
Um jartar rápido, um banho mais rápido ainda, berço arrumado... ZzZzZz...

O dia 08 amanheceu lindo. Plena quarta-feira. Não pude deixar de lembrar dos amigos. Todos trabalhando. Coitados !!


Saí cedinho rumo Bertioga. O canal de São Sebastião estava tranquilo, com a água limpa na cor esverdeada.

Petroleiros descarregando no terminal da Petrobras, balsas pra lá e pra cá, algumas embarcações de pesca. Me fez lembrar novamente de trabalho. Como estou sem nenhum, logo consegui esquecer dessa responsabilidade, que pelo menos por uns dias não adiantará me preocupar.


Ilha do Toque-toque.


As Ilhas (próximo a praia da Barra do Una).

Fiz a tradicional parada para o almoço nas Ilhas. O dia estava especial. A praia cheia de gente aproveitando suas férias. Nunca havia visto tanta gente lá. Pequenas lanchas levam e traz as pessoas do continente para esta ilha.
Logo após um rápido almoço, levantei âncora para seguir à Bertioga.
No final da tarde cheguei na praia do Indaiá. Entrei no canto abrigado, para sondar a profundidade. É um local que geralmente tem lanchas ancoradas. Porém o local é muito raso. Dá até para usar em caso de necessidade, mas não é adequado para veleiros.


Entrei no canal de Bertioga por volta da 18:00 hs.

Forte de Bertioga.


A Vila, como costumávamos chamar o centro da cidade de Bertioga na época que era apenas um distrito de Santos.

Fui tomar um lanche e um banho no AP do meu amigo Rebechi. Ele estava de férias passando uns dias lá.
A Ângela e a Isabela vieram passar o dia seguinte no Tukurá. Aproveitamos para ficar na praia brincando de fazer castelos de areia.

A noite elas voltaram para Mogi. Foi uma despedida meio dolorosa, porque a Isabela desabou a chorar. Fiquei com um nó na garganta pela reação dela.

Meu cunhado Fernando chegou quase à01:00 h da madrugada em Bertioga para sairmos no dia seguinte. Poucos minutos antes da chegada dele começou a ventar forte. Ficamos esperando quase uma hora para poder buscá-lo com o bote a remo.



Fernando. O CUnhadinho!

Dia 10 deixamos Bertioga rumo à Cananéia, litoral sul de São Paulo. O dia estava lindo. Céu azul, mar calmo e um ventinho fraco mas favorável. Motoramos até Santos, passando próximo ao Guarujá.

Praia da Enseada - Guarujá.


Ilha da Moela

Entramos em Santos para completar o tanque de Diesel. A entrada no canal do porto de Santos foi agitado. Por ser um final de semana, o trânsito de lanchas estava muito intenso.

Lancha é sinonimo de ondas. Aliás, se existe uma coisa que lancheiro gosta de fazer é passar pertinho de um veleiro, só para fazê-lo balançar.
Navios, lanchas, barcos de pesca, veleiros, pequenos barcos de alumínio, todos dividindo a estreita entrada do canal.

Abastecemos o mais rápido possível e saímos rumo ao sul. Seria a primeira viagem do Tukurá para a região sul. São 110 milhas (200 Km) de Santos à Cananéia.
Assim que saímos do canal, içamos velas para aproveitar o vento NE que ganhou força e estabilidade.
O ajudante estava cansado e o Capitão deixou o menino dormir um pouquinho.


O dia passou rápido, assim como navegava o Tukurá. A média era de 6 nós. Muitas vezes passava de 7 nós. A noite chegou quando chegamos no través da reserva da Jureia. Dali para frente não teríamos mais nenhum contato com celular ou mesmo pelo rádio.
Durante toda madrugada o vento soprou favoravelmente. Até mesmo quando se aproximamos de áreas chuvosas. De longe podíamos ver as descargas dos raios entre as nuvens. Mudei o rumo para evitar algumas regiões mais carregadas, mas não tive como evitar mergulhar naquele aguaceiro.
Por quase uma hora, navegamos sob forte descarga atmosférica. O fenômeno é lindo, porém assustador. Os raios saíam de uma nuvem para outra, visivelmente distantes quilometros uma da outra. Alguns raios viajavam na horizontal de forma magnífica. Meu receio era de algum deles resolver descarregar no mastro do Tukurá. Desliguei os cabos do VHF e do GPS, para evitar um eventual estrago.
Meu ajudante ficou lá dentro da cabine. Não sei se ele estava dormindo ou rezando! O Capitão ficou fora tomando chuva.

Quando amanheceu já estávamos na barra de Cananéia. Bem antes do que eu previa.


Poucas milhas antes, o vento virou para SW e o mar levantou. Segui então para a Ilha do Bom Abrigo, para descansar e esperar uma oportunidade para entrar barra à dentro.


Estavam ancorados lá alguns barcos de pesca. Me informei pelo rádio se as condições eram favoráveis para entrada. Um deles me confirmou que poderíamos entrar tranquilos. Aproveitamos e seguimos duas traineiras que retornavam para Cananéia. A rota que eu usava no GPS coincidiu com o trajeto feito pelos barcos locais.

A barra de Cananéia só pode ser demandada se o mar estiver bom. Existem bancos de areia muito rasos e o canal tem pouca profundidade.


Ao norte está a Ilha Comprida, ao sul está a Ilha do Cardoso.


O mar ficou uma piscina assim que passamos a entrada da barra. Aí foi só aproveitar o visual.


Ancorei no Centro Náutico Cananéia - CNC, a convite do Marcos Bernauer. O CNC tem instalações simples mas muito bem arrumada. Tem um posto com pier flutuante (não está funcionado no momento), poitas, restaurante e uma enorme boa vontade do Marcos para com os navegantes.


O Marcos conseguiu uma poita na Marina Homem do Mar, para que o Tukurá pudesse ficar uns dias guardado com segurança.


O pessoal da marina também foi nota 10 comigo. Pude usar toda infraestrutura deles sem nenhum custo.
A cidade de Cananéia é simpática. Não parece ter vocação para o turismo. Uma pena, porque se fosse melhor explorada, poderia atrair muita gente para desfrutar do seu ar bucólico e da natureza ainda preservada da região.


Retornei para Mogi de ônibus. Tinha que resolver alguns assuntos pessoais. Trabalho!
Estou desempregado. Embora tenha prometido para mim mesmo que aproveitaria esta condição de desempregado para viajar com o Tukurá (plano antigo, que aguardava uma chance), não dá para se desligar da responsabilidade e desperdiçar as oportunidades de trabalho que estavam me rodeando.

Agora necessito definir se continuo rumando para o sul ou se volto para Ubatuba.

O plano de seguir para Paranaguá via Canal do Varadouro, pode ser inviável em função do tempo necessário para encontrar um prático e pelo tempo da travessia. Dependerá das marés altas para passagem em alguns trechos.

Até a volta!