Depois de uma noite de descanso no Iate Clube Paranaguá. Saí a procura de um tripulante para me auxiliar no retorno até Santos.
As instalações do IC Paranaguá são simples, mas atendem as necessidades dos viajantes. Atraquei o Tukurá em uma vaga na ponta do pier.
Se tivessem filmado minha manobra, daria para mandar para as Video-cassetadas do Faustão. A correnteza estava muito forte e eu não conseguia entrar de ré na vaga. Foi um sufoco. Ainda bem que chegaram 3 pessoas para me auxiliar.
Me indicaram vários marinheiros que poderiam me ajudar no retorno. Mas apenas um deles tinha disponibilidade para viajar no dia seguinte.
Depois de levar um susto com o preço que o tal marinheiro pediu, acabei conseguindo negociar um valor "pagável" (com dor no coração).
Eu estava inseguro de retornar de Paranaguá até Santos sozinho. A previsão meteorológica estava indicando muita instabilidade. Ora o vento seria de NE, ora teríamos vento SE/SW. Além disso, estava se formando um ciclone extra-tropical no sul de SC.
Encarar esta sozinho não seria uma boa. Teria apenas um abrigo precário na Ilha do Bom Abrigo.
Marquei então um encontro no final da tarde com o marinheiro, para acertarmos os detalhes da partida.
Enquanto isso, fui atrás das provisões para viagem. Na portaria do clube, conheci um novo amigo. O Jacques. Ele me ofereceu ajuda para buscar o diesel.
Sotaque francês acentuado, jeito quieto e muito simpático.
O Jacques é um Suíço, que vive em Curitiba a muito tempo. Ele tem um Cal 9.2 lá no IC. Paranaguá.
Ele estava passando uns dias com sua família em Paranaguá. Fui até o barco dele conhecer sua família. Sua esposa Vera e sua filha Lorena.
Conversamos a tarde toda. Rimos e se emocionamos com nossas histórias de vida.
Durante nossa conversa, Jacques em tom de brincadeira, se ofereceu para me acompanhar no retorno. Demorou!! Como se dizem no popular.
Jacques autorizado pela esposa... Detalhes acertados... Me restou então cancelar o negócio com o marinheiro. A final, seria muito mais agradável navegar com uma pessoa com quem eu me simpatizei muito.
A noite acabou em pizza!
Do dia seguinte, saímos as 06:00 hs da manhã, para aproveitar a maré vazante.
Do dia seguinte, saímos as 06:00 hs da manhã, para aproveitar a maré vazante.
Jacques. Um novo amigo.
Deste momento em diante não pude mais fotografar. Por um simples motivo. Minha câmera tomou um caldo!
Cometi um erro. Não imaginava que a saída na barra de Paranaguá, com a correnteza vazando, provocaria ondas tão altas como a que pegamos.
A correnteza era muito forte. O barco chegava a 9 nós, pegando carona na correnteza. Estimo que a correnteza chegou aos 5 nós de velocidade.
Quando nos aproximamos do estreito do canal entre a Ilha do Mel e a Ilha da Galheta, percebi o erro que estava cometendo. Umas ondas altas vinham ao nosso encontro, como se fosse uma pororoca. De longe pareciam pequenas, se aproximavam rápido. O Jacques correu para dentro da cabine para pegar o cinto de segurança. Acho que ele já sabia o que ia acontecer. Eu não!!!
Jacques... segura que vai balançar.
Jacques... as ondas estão crescendo.
Jacques... tá chegando.
Tibumm!!!
Na primeira onda o Tukurá subiu. Desceu na cava e aí a segunda onda passou por cima do convés.
Foi um mergulho de surfista vazando a onda com sua prancha.
Minha sorte é que o Jacques fechou a tampa da gaiuta. Mas mesmo assim molhou muito o interior do barco. A vedação das gaiutas de proa não resistiram ao impacto e vazaram, molhando todo interior do barco.
Minha máquina digital estava pendurada na catraca. Tomou um banho. Eu gostava muito dela!
Passado o susto e o prejuizo, seguimos pelo canal vencendo as ondas até que viramos rumo ao NE na boia No. 1.
Foram 10 horas até a Ilha do Bom Abrigo. Planejei pernoitar lá para esperar passar o forte vento NE (contra), que estava previsto para a madrugada seguinte.
Chegamos no Bom Abrigo no final da tarde. O vento já estava aumentando e trazia uma chuva intensa.
Não tínhamos proteção contra a direção deste vento. Joguei âncora onde achei que fosse um bom lugar. A noite foi chegando e eu não estava tranquilo lá. Pensamos em mudar de lugar, mas acabamos ficando lá mesmo, para evitar o riscos.
Me arrependi! Foi uma noite de cão.
O vento chegou a 24 nós (40 Km/h) e estávamos próximos das pedras. Não pude dormir. Fiquei fora no convés tomando chuva a noite toda. Quando a chuva e o vento apertava, não conseguia ver as pedras da ilha que tomava como referência. O que me causava pavor! E assim foi até o amanhecer.
Como previsto pela meteorologia, o dia seguinte amanheceu melhor, com vento contra mas suave.
Tomamos um café. Descansei um pouco. Lá pelas 10:00 hs da manhã zarpamos rumo à Santos. Se tudo continuasse como estava, seriam 20 à 24 horas de viagem. E assim foi!
No final da tarde, passávamos pela Jureia.
No final da tarde, passávamos pela Jureia.
A noite chegou, e tudo estava indo melhor do que o esperado. O vento e o mar estavam amigáveis. Motorávamos entre 4 à 5 nós. Boa velocidade para as condições que tínhamos.
Durante a madrugada recebemos visitas. Golfinhos! Eles apareceram várias vezes.
Mas quando foi lá pelas 03:00hs da manhã, um cardume de uns 4 deles seguiram o Tukurá por uns 15 minutos. Parecia um bando de moleques brincando de pegar rabeira de caminhão (só quem tem mais de 40 anos já brincou disto).
Mas quando foi lá pelas 03:00hs da manhã, um cardume de uns 4 deles seguiram o Tukurá por uns 15 minutos. Parecia um bando de moleques brincando de pegar rabeira de caminhão (só quem tem mais de 40 anos já brincou disto).
O tráfego de navios estava intenso. Na verdade tinham muitos deles ancorados esperando vez para entrar no porto de Santos.
Como eu tinha data limite para chegar em Ubatuba, pois deveria iniciar em meu novo trabalho no dia 02/02 (Só faltavam 3 dias para acabar a moleza). Sugeri ao Jacques tocar direto para Ilhabela. Não estávamos muito cansados e tínhamos diesel e comida para ir direto.
Assim fizemos. Foi uma sexta-feira muito bonita. Sol e mar liso.
Passamos por trás da Ilha da Moela, da Ilha do Montão de Trigo e chegamos a Ilhabela pela Ponta da Sela.
Pegamos um ventão contra no canal de São Sebastião. Mas foi possível chegar ao Saco do Pinda ainda de dia.
Lá estavam dois transatlânticos enfeitando a Ilhabela. E seus passageiros fazendo compras nas lojas da vila.
Tomamos uma ducha lá na Base Mirela do Almir.
Encontramos o Sergio (Três no Mundo) no seu novo barco Travessura. Marcamos para nos encontrar no café da vila.
Fomos jantar lá no Cheiro Verde e depois fomos ao café encontrar o Sergio e seu filho Jonas.
Foi uma noite muito legal! Mas estávamos cansados e voltamos para o barco.
No sábado pela manhã saímos rumo à Ubatuba.
O Jacques gostou muito da Ilhabela. Também quem não gostaria né!
Pegamos um ventinho NW que permitiu uma velejada até a Ilha do Mar Virado.
Foi muito legal ter a companhia do Jacques. Um cara de fé, pessoa de grande valor, que dedica muito da vida às pessoas humildes. Grande e bonita missão é a sua aqui neste mundo, Jacques!
Chegamos em Ubatuba e minha irmã e meu cunhado nos aguardavam para retornar para Mogi.
Tomamos um lanche no Issashi e subimos a Serra.
Lá ficou meu fiel amigo Tukurá. Sujo, salgado, fedido, bagunçado. Mas feliz da vida pelas 590 milhas (1000 Km) navegadas.
Lá ficou meu fiel amigo Tukurá. Sujo, salgado, fedido, bagunçado. Mas feliz da vida pelas 590 milhas (1000 Km) navegadas.
Agora tenho que trabalhar muito. Ano da crise. Quem sabe em 2010 seguiremos rumo ao Nordeste.
Bons ventos.