07/01/09:
Com a ajuda do meu pai, o vô painho como é chamado pela Isabela, me desloquei para Ubatuba de mala e cuia. Meu objetivo é seguir de lá para Bertioga, com pernoite na Ilhabela.
Meu pai retornou com o carro para Mogi. Ele nem queria embarcar no Tukurá antes de voltar para casa. Insisti um pouco e ele aceitou dar uma chegadinha no barco.
São muitas as minhas semelhanças e afinidades com o meu pai. Foi dele que herdei a ciganice que tenho. Mas em uma coisa não combinamos. Ele não gosta de mar. O negócio dele é mato!
Desde pequeno fui acostumado a aproveitar o tempo livre com passeios e viagens. Tenho ótimas recordações dos tempos que moleque, em que viajávamos em uma camionete Toyota. Dormíamos na caçamba, minha mãe cozinhava em um fogãozinho de camping, muitas vezes acampávamos. Pão com mortadela, macarronada, bananas, tubaína e as vezes um refogado de broto de abóbora (afanado dos sítios de beira de estrada).
Seu Paulo! Muito obrigado pela a educação que o Sr. me deu. Muito obrigado pelos tão importantes valores de vida. Simplicidade, honestidade e felicidade. Serei eternamente grato a tudo o que o senhor fez por mim.
Eu te amo.
Preparativos em ordem, pude zarpar rumo a Ilhabela às 16:00 h do dia 07.
Ilha dos Búzios e Ilhabela.
Mar tranquilho, aquele ventão de zero nós de Ubatuba... lá vou eu! Às 21:30 hs peguei uma poita no praia do Pindá.
Um jartar rápido, um banho mais rápido ainda, berço arrumado... ZzZzZz...
O dia 08 amanheceu lindo. Plena quarta-feira. Não pude deixar de lembrar dos amigos. Todos trabalhando. Coitados !!
Saí cedinho rumo Bertioga. O canal de São Sebastião estava tranquilo, com a água limpa na cor esverdeada.
Petroleiros descarregando no terminal da Petrobras, balsas pra lá e pra cá, algumas embarcações de pesca. Me fez lembrar novamente de trabalho. Como estou sem nenhum, logo consegui esquecer dessa responsabilidade, que pelo menos por uns dias não adiantará me preocupar.
Ilha do Toque-toque.
As Ilhas (próximo a praia da Barra do Una).
Fiz a tradicional parada para o almoço nas Ilhas. O dia estava especial. A praia cheia de gente aproveitando suas férias. Nunca havia visto tanta gente lá. Pequenas lanchas levam e traz as pessoas do continente para esta ilha.
Logo após um rápido almoço, levantei âncora para seguir à Bertioga.
No final da tarde cheguei na praia do Indaiá. Entrei no canto abrigado, para sondar a profundidade. É um local que geralmente tem lanchas ancoradas. Porém o local é muito raso. Dá até para usar em caso de necessidade, mas não é adequado para veleiros.
Entrei no canal de Bertioga por volta da 18:00 hs.
Forte de Bertioga.
A Vila, como costumávamos chamar o centro da cidade de Bertioga na época que era apenas um distrito de Santos.
Fui tomar um lanche e um banho no AP do meu amigo Rebechi. Ele estava de férias passando uns dias lá.
A Ângela e a Isabela vieram passar o dia seguinte no Tukurá. Aproveitamos para ficar na praia brincando de fazer castelos de areia.
A noite elas voltaram para Mogi. Foi uma despedida meio dolorosa, porque a Isabela desabou a chorar. Fiquei com um nó na garganta pela reação dela.
Meu cunhado Fernando chegou quase à01:00 h da madrugada em Bertioga para sairmos no dia seguinte. Poucos minutos antes da chegada dele começou a ventar forte. Ficamos esperando quase uma hora para poder buscá-lo com o bote a remo.
Fernando. O CUnhadinho!
Dia 10 deixamos Bertioga rumo à Cananéia, litoral sul de São Paulo. O dia estava lindo. Céu azul, mar calmo e um ventinho fraco mas favorável. Motoramos até Santos, passando próximo ao Guarujá.
Praia da Enseada - Guarujá.
Ilha da Moela
Entramos em Santos para completar o tanque de Diesel. A entrada no canal do porto de Santos foi agitado. Por ser um final de semana, o trânsito de lanchas estava muito intenso.
Lancha é sinonimo de ondas. Aliás, se existe uma coisa que lancheiro gosta de fazer é passar pertinho de um veleiro, só para fazê-lo balançar.
Navios, lanchas, barcos de pesca, veleiros, pequenos barcos de alumínio, todos dividindo a estreita entrada do canal.
Abastecemos o mais rápido possível e saímos rumo ao sul. Seria a primeira viagem do Tukurá para a região sul. São 110 milhas (200 Km) de Santos à Cananéia.
Assim que saímos do canal, içamos velas para aproveitar o vento NE que ganhou força e estabilidade.
O ajudante estava cansado e o Capitão deixou o menino dormir um pouquinho.
O dia passou rápido, assim como navegava o Tukurá. A média era de 6 nós. Muitas vezes passava de 7 nós. A noite chegou quando chegamos no través da reserva da Jureia. Dali para frente não teríamos mais nenhum contato com celular ou mesmo pelo rádio.
Durante toda madrugada o vento soprou favoravelmente. Até mesmo quando se aproximamos de áreas chuvosas. De longe podíamos ver as descargas dos raios entre as nuvens. Mudei o rumo para evitar algumas regiões mais carregadas, mas não tive como evitar mergulhar naquele aguaceiro.
Por quase uma hora, navegamos sob forte descarga atmosférica. O fenômeno é lindo, porém assustador. Os raios saíam de uma nuvem para outra, visivelmente distantes quilometros uma da outra. Alguns raios viajavam na horizontal de forma magnífica. Meu receio era de algum deles resolver descarregar no mastro do Tukurá. Desliguei os cabos do VHF e do GPS, para evitar um eventual estrago.
Meu ajudante ficou lá dentro da cabine. Não sei se ele estava dormindo ou rezando! O Capitão ficou fora tomando chuva.
Quando amanheceu já estávamos na barra de Cananéia. Bem antes do que eu previa.
Poucas milhas antes, o vento virou para SW e o mar levantou. Segui então para a Ilha do Bom Abrigo, para descansar e esperar uma oportunidade para entrar barra à dentro.
Estavam ancorados lá alguns barcos de pesca. Me informei pelo rádio se as condições eram favoráveis para entrada. Um deles me confirmou que poderíamos entrar tranquilos. Aproveitamos e seguimos duas traineiras que retornavam para Cananéia. A rota que eu usava no GPS coincidiu com o trajeto feito pelos barcos locais.
A barra de Cananéia só pode ser demandada se o mar estiver bom. Existem bancos de areia muito rasos e o canal tem pouca profundidade.
Ao norte está a Ilha Comprida, ao sul está a Ilha do Cardoso.
O mar ficou uma piscina assim que passamos a entrada da barra. Aí foi só aproveitar o visual.
Ancorei no Centro Náutico Cananéia - CNC, a convite do Marcos Bernauer. O CNC tem instalações simples mas muito bem arrumada. Tem um posto com pier flutuante (não está funcionado no momento), poitas, restaurante e uma enorme boa vontade do Marcos para com os navegantes.
O Marcos conseguiu uma poita na Marina Homem do Mar, para que o Tukurá pudesse ficar uns dias guardado com segurança.
O pessoal da marina também foi nota 10 comigo. Pude usar toda infraestrutura deles sem nenhum custo.
A cidade de Cananéia é simpática. Não parece ter vocação para o turismo. Uma pena, porque se fosse melhor explorada, poderia atrair muita gente para desfrutar do seu ar bucólico e da natureza ainda preservada da região.
Retornei para Mogi de ônibus. Tinha que resolver alguns assuntos pessoais. Trabalho!
Estou desempregado. Embora tenha prometido para mim mesmo que aproveitaria esta condição de desempregado para viajar com o Tukurá (plano antigo, que aguardava uma chance), não dá para se desligar da responsabilidade e desperdiçar as oportunidades de trabalho que estavam me rodeando.
Agora necessito definir se continuo rumando para o sul ou se volto para Ubatuba.
O plano de seguir para Paranaguá via Canal do Varadouro, pode ser inviável em função do tempo necessário para encontrar um prático e pelo tempo da travessia. Dependerá das marés altas para passagem em alguns trechos.
Até a volta!
domingo, 11 de janeiro de 2009
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